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demência

Que impacto pode ter o design na qualidade de vida das pessoas com demência?

Agosto 9, 2019

Rita Maldonado Branco (*)

Design e demência? A associação pode não parecer óbvia, mas o design pode desempenhar um papel importante na vida de quem tem demência, e de quem cuida, uma vez que está relacionado com tudo o que nos rodeia: espaços, objectos, roupas, etc…

Design como facilitador: coisas que facilitam e capacitam o dia-a-dia

Esta é talvez a primeira das “funções” que atribuímos aos objectos – são-nos úteis no nosso quotidiano. Desde que funcionem, que sejam fáceis de usar, que sejam confortáveis, e já agora agradáveis à vista, nem pensamos muito neles. À medida que a demência vai evoluindo, os objectos e a sua utilização torna-se muitas vezes mais confusa e complexa: o que dantes era fácil de usar, agora levanta dúvidas; o que era intuitivo, deixa de o ser; o que se fazia quase sem pensar, pode implicar muitos passos que agora são difíceis de lembrar. A atenção e a percepção também se alteram: o que dantes era óbvio e visível, pode passar despercebido ou fazer confusão.

Apesar destas dificuldades, é importante que a pessoa com demência mantenha a sua autonomia e que continue a desempenhar tarefas diárias sempre que possível. Nesse sentido, torna-se crucial perceber de que forma as coisas que rodeiam a pessoa com demência facilitam, ou complicam, a tarefa a realizar. Por exemplo, um comando, cheio de botões, pode tornar-se uma grande confusão, um interruptor branco sobre uma parede branca pode não ser visível. Em vez de assumir que a pessoa já não é capaz, e de fazer por ela, é necessário observar com atenção e fazer um esforço para entender o que está a dificultar a acção, e o que poderia facilitar, e ir experimentando: um objecto novo, ou pequenos “ajustes caseiros” que possam ajudar – destacar os botões essenciais de um comando para operar a TV, ou esconder os que não interessam; contornar o interruptor com uma fita-cola de cor que contraste com o tom da parede, para o tornar mais visível.

Ainda que objectos simples, com poucas funções, sejam à partida mais fáceis de usar, e objectos mais familiares, aos quais a pessoa esteja habituada, possam ser mais inteligíveis, não há regras nem produtos que funcionem universalmente para todos. Por isso, é essencial observar a pessoa, conhecê-la, e tentar compreender o que é mais acessível e adequado à experiência específica de cada um, e pensá-lo da perspectiva da pessoa com demência. Um sofá ou uma cadeira podem parecer-nos muito confortáveis, mas para alguém que lá estará sentado muitas horas, e que tenha dificuldade em levantar-se, o caso pode mudar de figura. Um objecto adequado (e também todo o ambiente, a luz, o ruído do espaço onde se está) pode fazer a diferença na autonomia e bem-estar da pessoa com demência, capacitando-a para desenvolver tarefas e participar em actividades, contribuindo para o sentimento de inclusão e para a auto-estima.

Capacitar – individuais para pôr a mesa
Estes “individuais”, desenvolvidos a pensar na minha avó, são um exemplo deste intuito de capacitar a pessoa com demência para participar em tarefas diárias, neste caso, pôr a mesa. As silhuetas dos talheres, pratos e copos, foram cuidadosamente desenhadas de forma muito simples, a linha, e sem outros estímulos visuais que pudessem distrair da tarefa. A minha avó foi capaz de fazer a associação visual entre as silhuetas e os objectos e conseguiu pôr a mesa sozinha.

 

Design como experiência estética: coisas bonitas e agradáveis

Não só a acessibilidade, a simplicidade e o conforto são aspectos relevantes a ter em conta, mas também as qualidades estéticas dos objectos – gostamos de estar rodeados de coisas bonitas e agradáveis ao olhar (gostamos de olhar a árvore que se vê da janela da sala), ao tacto (apreciamos a textura macia daquela camisola), e até ao ouvido (fechamos a porta da lavandaria para não ter de ouvir o ruído da máquina da roupa que incomoda). As coisas que nos rodeiam são também portadoras de experiências estéticas, isto é, são capazes de nos despertarem os sentidos, de nos presentearem com o belo. A dimensão estética, relativa à percepção do belo e à compreensão através dos diferentes sentidos, torna ambientes e objectos mais atractivos e convidativos, e pode contribuir para uma utilização mais fácil, adequada e estimulante. Isto porque os diferentes sentidos (a visão, o tacto, a audição, o paladar, o olfacto) também são canais de comunicação não verbal, particularmente importantes em fases mais avançadas de demência. Tradicionalmente, o design faz esta gestão dos diferentes sentidos, procurando a funcionalidade, o conforto e a beleza dos objetos e dos espaços, mas também procurando proporcionar experiências multissensoriais. Estas competências podem servir e contribuir para facilitar a comunicação e relacionamento com a pessoa com demência, numa interacção que vai para além das palavras.

Design como dignificador: coisas que valorizam a pessoa e afirmam a sua identidade

A dimensão estética do design, o esforço por desenhar e produzir espaços e objetos bonitos, é também uma forma de valorizar e dignificar a pessoa com demência, mostrando que vale a pena prestar atenção, cuidar e desenhar com cuidado. Esta atitude pode ajudar a desafiar alguns estigmas e preconceitos – “para que me vou preocupar com o que esta pessoa tem vestido se ela já não liga”? Independentemente das preferências de cada um, todos nós gostamos de nos sentir bem com o que vestimos e com o que nos rodeia – porque é que haveria de ser diferente para pessoas com demência? Talvez seja até mais importante!

O design age como mediador cultural entre pessoas e as coisas que as rodeiam, desenvolvendo uma grande capacidade e sensibilidade para observar, interpretar e responder às necessidades e preferências das pessoas, a partir da compreensão dos seus gestos e reações ao que as rodeia. Na minha investigação, esta capacidade e sensibilidade do design tem vindo a ser utilizada para personalizar materiais e atividades de acordo com os interesses e a história de vida da pessoa com demência, bem como das suas preferências e idiossincrasias, procurando desta forma, incluir e afirmar a identidade da pessoa no desenvolvimento de momentos de lazer e ocupação.

Objectos com tacto
Estes objetos para estimulação sensorial, desenhados em colaboração com a designer Carla Pontes, tiveram em conta a história de vida, preferências e capacidades de uma pessoa com demência com demência avançada, que foi envolvida, bem como a família e profissionais de saúde, no processo de design. A peça das argolas, mais pequena, permite mais movimento e uma estimulação mais activa, reforçada pelas cores vivas; a capa pretende aconchegar a pessoa, apaziguá-la e convidá-la a relaxar.


Design como convite à participação: coisas e processos que envolvem a pessoa 

Também de forma personalizada, a minha investigação doutoral procurou desenhar convites à participação e envolvimento da pessoa com demência: através do desenvolvimento de artefactos que as incluem em actividades colectivas, mas também como colaboradores e participantes activos no processo de design, contribuindo e influenciando este processo e consequentemente os seus resultados (como nos “Objectos com tacto”). Sendo assim, não se desenharam apenas objetos, mas também estratégias de colaboração pensadas cuidadosamente, adaptadas e adequadas aos participantes, envolvendo os seus familiares e profissionais de saúde. Para estas sessões participativas foram desenvolvidos e utilizados materiais tangíveis como cartões, objetos, amostras de materiais e protótipos para facilitar o envolvimento e a observação das reações e do tipo de experiências que estes poderiam desencadear, mas também para evitar discussões com base em pensamento abstrato, conceitos e ideias imaginadas. Estas sessões incluíram também a utilização de imagens e palavras como pistas para ajudar as pessoas a encontrar formas de expressar e partilhar as suas experiências, adaptando a linguagem e actividades de forma a serem simples e lúdicas, e procurando sempre estimular e apoiar a criatividade.

Este esforço para envolver a pessoa com demência em atividades com as quais ela se identifique, respeitando-a e valorizando-a, tem o potencial de proporcionar momentos estimulantes e agradáveis, contribuindo para a aproximação e bem-estar da pessoa com demência e também dos seus cuidadores.

Roda Viva – jogo da glória personalizável
Jogo da glória personalizável, desenvolvido em colaboração com os utentes de um lar, com base nos seus interesses e em temas que lhes eram familiares, tendo sido também convidados a ilustrar o tabuleiro e pinos de jogar.

Apesar dos contributos que acredito que o design pode trazer para o bem-estar de pessoas com demência, é importante ressalvar que por muito boas que possam ser as intenções do design, se houver pouco cuidado no desenho dos objetos e das suas qualidades estéticas, e pouco apoio de profissionais de saúde na adequação e estratégias de utilização, facilmente se podem desenvolver objetos que de alguma forma podem vir a ser estigmatizantes e confrontar as pessoas com as suas dificuldades.
Assim, em colaboração com a saúde, o design, com a sua capacidade de observar, visualizar e prototipar, tem um enorme potencial para desenvolver objetos que sejam mais fáceis de usar, mais acessíveis, mais convidativos e mais adequados à especificidade das experiências individuais.

(*) Rita Maldonado Branco, é designer e a sua história profissional cruza-se e é influenciada pela história de dois dos seus avós, ambos com demência. Doutorada em Design (2018) pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto em parceria com a Universidade de Aveiro, com acolhimento do Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura (ID+), e financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia. É mestre em Design de Comunicação pela Central Saint Martins, University of the Arts London (2012) e licenciada em Design pela Universidade de Aveiro (2008). Pode descobrir parte do seu trabalho aqui.

Filed Under: Notícias Tagged With: demência, design, qualidade de vida

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